Por milênios, o sono humano foi dividido em dois períodos distintos: um à noite e outro pela manhã. Este hábito, conhecido como “sono bifásico”, era comum em muitas culturas ao redor do mundo antes de desaparecer no início do século XX. Mas por que as pessoas dormiam dessa forma e como essa prática foi esquecida?
A Descoberta Histórica
A ideia do sono bifásico foi redescoberta nos anos 1990 pelo historiador Roger Ekirch, enquanto ele pesquisava sobre a história da noite na Inglaterra. Em documentos judiciais do século XVII, ele encontrou várias referências a um “primeiro sono”, seguido por um período de vigília, e então um “segundo sono”. Ekirch encontrou menções semelhantes em cartas, diários, livros médicos e literaturas de várias partes do mundo, mostrando que essa prática era comum em muitas culturas, incluindo na França, Itália e até em partes da Ásia e da América do Sul.
Como Funcionava o Sono Bifásico?
Durante o período medieval, as pessoas iam para a cama logo após o pôr do sol, por volta das 21h, dormiam algumas horas e acordavam naturalmente no meio da noite. Este período de vigília durava de uma a duas horas, conhecido como “a vigília”. Nesse tempo, as pessoas realizavam diversas atividades como rezar, fazer trabalhos manuais, socializar e até ter momentos de intimidade conjugal. Após a vigília, elas voltavam a dormir até o amanhecer.
Este padrão de sono permitia que as pessoas se conectassem de maneira mais íntima, socializassem com familiares e vizinhos, e também realizassem atividades pessoais ou religiosas. Era uma maneira natural de dividir o sono, que se encaixava bem no ritmo de vida das sociedades pré-industriais.
A Transição para o Sono Contínuo
O desaparecimento do sono bifásico começou com a Revolução Industrial, que trouxe mudanças significativas nos hábitos diários das pessoas. A introdução da iluminação artificial, como o gás e, posteriormente, a eletricidade, permitiu que as pessoas ficassem acordadas até mais tarde. Isso resultou em uma compressão das horas de sono em um único bloco contínuo. Além disso, a necessidade de se adaptar aos horários de trabalho fixos fez com que as pessoas passassem a dormir em um único período.
O Impacto do Sono Bifásico na Atualidade
Os estudos sobre o sono bifásico oferecem uma nova perspectiva sobre os problemas de insônia que muitas pessoas enfrentam hoje. Roger Ekirch sugere que acordar durante a noite pode ser uma resposta natural do corpo, e não necessariamente um problema de sono. Essa percepção pode ajudar a reduzir a ansiedade associada à insônia, pois mostra que acordar no meio da noite já foi considerado normal.
Apesar das mudanças nos padrões de sono, Ekirch destaca que, em muitos aspectos, vivemos em uma era de ouro do sono, com camas confortáveis e condições de sono seguras. A prática de dormir em um único período pode não ser “natural”, mas é uma adaptação ao mundo moderno que nos oferece vantagens significativas em termos de conforto e segurança.
Em resumo, o sono bifásico era uma prática comum e natural no passado, adaptada ao ritmo de vida das sociedades pré-industriais. Embora não seja mais a norma, entender essa prática pode nos ajudar a reavaliar nossa relação com o sono hoje.
Esse artigo foi um resumo baseado no artigo The forgotten medieval habit of ‘two sleeps’
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