Desde que tive meu filho, nasceu junto com ele uma pressão interna exaustiva sobre controlar e doutrinar o sono dele. Cheguei a conclusão que estava sendo mais nociva toda essa auto cobrança do que ele fugir das regras modernas sobre o sono.

Ainda assim, a cada vídeo e publicação em redes sociais que aparecia pra mim, me incomodava profundamente o sentimento de estar falhando nessa área, afinal, meu filho sempre dormiu MUITO tarde, mesmo com tentativas frustradas e constantes de tentar “acertar” a rotina e horários de sono dele.

A cada vídeo ou publicação que eu via, me sentia uma mãe mais falhada, que estava privando o desenvolvimento pleno do meu filho ao não força-lo a dormir as 19h e acordar as 7h.

Resolvi pesquisar mais a fundo sobre tudo que mencionavam como consequencias e malefícios do sono tardio para encontrar soluções e encontrei alguns materiais que ao invés de me incentivar, orientar e embasar a um ajuste à rotina 7 até 7 – funcionaram para o oposto, apenas me liberaram de toda culpa e cobrança que eu me fazia sobre esse tema.

Foi um divisor de águas tão grande na minha forma de encarar esse assunto, que resolvi fazer um resumo dos materiais que li e referencia-los aqui, para ajudar mais mamães que como eu, ainda se culpam por não conseguir se encaixar na rotina 7 até 7, seja porque trabalham, ou porque não é o natural do seu filho e de sua família. E tudo bem, ok? Eu vou te provar!

No fim do artigo tem os estudos científicos e embasamentos de tudo que está escrito aqui.

As melhores práticas para o sono dos bebês segundo cientistas – e por que alguns conselhos comuns podem estar errados (BBC)

Há um artigo da BBC Future publicado originalmente em inglês que veio de encontro com tudo que eu já estava observando desde que o meu filho nasceu, e vou deixar aqui os trechos mais impactantes, mas sugiro uma leitura do artigo por completo aqui.

Seguem os trechos que mais desmistificam os conselhos comuns modernos, tentei resumir ao máximo e dividir por tópicos, mas são muitos trechos realmente relevantes.

Não há padrões de sono em adultos, e nem em bebês:

“Da mesma forma que o tempo de sono dos adultos apresenta diferenças, o mesmo acontece com os bebês”, segundo Alice Gregory, professora de psicologia especializada em sono da Universidade Goldsmiths, em Londres, e autora do livro Nodding Off: The Science of Sleep (“Cochilando: a ciência do sono”, em tradução livre).

mito 1: Sonecas no escuro

[…] E, apesar do que indicam alguns instrutores, os bebês não produzem melatonina durante o dia — o que confundiria seus ritmos circadianos, se fosse verdade — e não é necessário ter sonecas completamente no escuro para fins de produção de melatonina.

mito 2: Dormir cedo traz melhor desempenho

Sim, para as que são obrigadas a acordar cedo por estar em idade escolar. Em bebês não é comprovado, pois podem dormir tarde mas também acordar tarde.

Em um contexto global, a hora de dormir às 19 horas pode parecer um tanto arbitrária. Em muitas culturas, bebês e crianças vão dormir mais tarde — perto de 22h45 no Oriente Médio, 21h45 na Ásia e 22 horas na Itália — e também acordam mais tarde. Diversos estudos associaram dormir mais cedo a consequências como melhor desempenho acadêmico e menor risco de obesidade. Mas essas pesquisas envolveram crianças em idade pré-escolar e mais velhas, não bebês.

Também não está claro se a hora de dormir faz essencialmente alguma diferença. Como a escola e outras rotinas das crianças tendem a começar no início da manhã, as crianças que vão cedo para a cama tendem a dormir por mais tempo, mas as famílias que colocam suas crianças para dormir mais cedo podem também priorizar outros hábitos saudáveis. E não é fácil esclarecer esses outros fatores.

Mito 3: Tempo de sono necessário é igual para todos os bebês

Claro, é provável que a relação entre sono e desenvolvimento seja bilateral. Ensaios clínicos randomizados controlados de curto prazo descobriram que bebês que receberam uma tarefa de memória se saíram melhor quando tiraram uma soneca e, em descobertas que surpreenderam exatamente zero pais, que bebês fatigados tiveram mais dificuldade em lidar com um episódio estressante do que bebês alertas.

Mas, embora isso possa significar que não devemos fazer nada (como forçar deliberadamente uma criança a ficar acordada) para inibir o sono, isso não significa que todo bebê precise de 12 horas de sono ininterrupto por noite e vários cochilos de duas horas por dia.

“Assim como os adultos diferem em termos de sono, o mesmo ocorre com os bebês”

Nenhum órgão faz recomendações específicas para cochilos versus quantidades de sono noturno.

“Essas diretrizes ligeiramente diferentes destacam o fato de que até mesmo os principais especialistas discordam sobre o sono infantil”, diz Gregory.

mito 4: Dormir cedo é o certo

Para algumas famílias, o esquema de dormir das sete às sete funciona de forma brilhante. Mas, para outras, tentar forçá-lo causa seus próprios problemas de sono.

“Nossos dados indicam que, se crianças jovens forem colocadas para dormir em um horário biologicamente abaixo do ideal, elas não estarão prontas para ir para a cama e irão resistir (por exemplo, saindo do quarto para tomar outro copo de água, chamar os pais, recusar-se a ir para a cama ou fazer birra)”, segundo os pesquisadores do estudo de Rhode Island.

E, se o seu bebê por acaso não precisar de 12 horas de sono por noite, fazer com que ele durma às 19 horas pode ter consequências indesejadas, como “pular noites”, quando um bebê acorda por um longo período de tempo no meio da noite ou acorda extremamente cedo.

mito 5: crianças mais jovens liberam melatonina antes dos adultos à noite

As evidencias são limitadas.

Existem também evidências limitadas de que crianças mais jovens liberam melatonina — o “hormônio da escuridão” que nos deixa sonolentos — antes dos adultos à noite. Mas não tão cedo quanto muitas pessoas pensam.

Sono do bebe mitos e verdades
Bebe comendo

mito 6: Rotina de alimentação

Há evidências de que uma alimentação responsiva pode ser mais benéfica do que uma rotina de alimentação, e um sono flexivel facilita esse tipo de alimentação.

Agora a autora desse artigo, Ingrid, falando: Lutei por 30 anos com a balança, sempre sendo fofinha porque sempre segui horários de alimentação rígidos e cumprindo todas as refeições que temos como necessárias. Até o comer de 3 em 3h nunca funcionou pra mim. Quando parei pra entender meu corpo, pesquisar e aplicar em mim a alimentação responsiva como forma de vida, perdi 15kg que foram pra nunca mais voltar.

Uma estratégia mais flexível sobre o sono pode também facilitar a alimentação responsiva, que consiste em responder às indicações de fome do bebê, em vez de alimentá-lo segundo um cronograma determinado. A alimentação responsiva é recomendada por associações como o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS, na sigla em inglês), a Unicef, a entidade britânica National Childbirth Trust (NCT) e a Academia Norte-Americana de Pediatria, tanto para crianças alimentadas com leite materno ou com mamadeira.

Quanto mais os pais controlam a alimentação dos bebês, mais aumenta a probabilidade de que a criança ganhe muito ou pouco peso.

Estudos indicam que a estratégia responsiva apresenta uma série de vantagens sobre a rotina ou cronograma restrito imposto pelos pais. Pesquisas concluíram, por exemplo, que, quanto mais os pais controlam a alimentação dos bebês, mais aumenta a probabilidade de que a criança ganhe muito ou pouco peso – embora fique a dúvida, como observam os autores, se “a alimentação não-responsiva causa obesidade infantil ou se os pais de crianças obesas reagem a preocupações com a obesidade dos seus filhos adotando estratégias de alimentação não-responsiva.

Programar as refeições também está relacionado à suspensão da amamentação mais cedo.

Mães que leem livros que promovem rotinas rigorosas de sono e alimentação são menos dispostas a amamentar.

A estratégia pode também afetar a amamentação. A alimentação responsiva é fundamental para formar o fluxo de leite, enquanto programar as refeições também está relacionado à suspensão da amamentação mais cedo. Já as mães que leem livros que promovem rotinas rigorosas de sono e alimentação são menos dispostas a amamentar.

Observar e acompanhar as necessidades do bebê pode também ser benéfico para a saúde mental dos pais. Rotinas estabelecidas pelos pais estão relacionadas a níveis mais altos de relatos de ansiedade entre as mães.

Mito 7: Rotina rígida é extremamente necessário

Quantas vezes ouvimos que bebês precisam de rotina super rígida? Para muitos que já vivem com rotina pode ser fácil, mas pra quem, como eu, nunca viveu rotina, pode ser frustrante e até deprimente – e eu experimentei isso na pele.

Outro estudo, do qual Brown foi uma das autoras, concluiu que as mães que adotavam livros sobre bebês promovendo rotinas rigorosas eram mais propensas a afirmar que se sentiam deprimidas, estressadas e menos confiantes em suas atividades maternais — embora seja necessário observar que pais estressados poderão ser mais dispostos a buscar esses livros sobre bebês ou estabelecer rotinas.

O melhor é o que é melhor para o SEU BEBÊ, e isso definitivamente não é igual pra todos.

Por fim, os pesquisadores do sono afirmam que isso não precisa ser tão complicado. Para saber o que é ideal para cada bebê individualmente – uma rotina rigorosa organizada em torno do sono das sete às sete ou outra coisa – basta olhar para o bebê.

“Eu sempre digo para os pais: se o seu bebê geralmente está feliz durante o dia, é porque ele está bem. Se ele estiver mal-humorado ou irritado, pode ser o seu sono”, afirma Harriet Hiscock.

mito 8: Por que acordar não é tão ruim

Por mais frustrante que possa ser para os pais cansados, existe outra razão pela qual os bebês evoluíram para acordar com frequência: sua própria proteção. Quando se fala da síndrome da morte súbita infantil (SMSI), um estágio potencialmente perigoso do sono para os bebês é o sono profundo, ou “sono de ondas lentas”. Nesse estágio, os bebês podem subitamente parar de respirar. Os bebês saudáveis irão acordar, […] Por isso, forçar prematuramente um bebê a ter um sono mais longo e profundo pode aumentar o risco de SMSI.

mito 9: períodos de sono mais longos e profundos, sem despertar, são melhores para o desenvolvimento dos bebês

Esta é uma percepção comum, mas não é o que indicam as pesquisas.

“O que encontramos em nossos dados, coletados nos Estados Unidos, é que não há relação real entre o sono e o desenvolvimento cognitivo posterior”.

Outro estudo, do Canadá, examinou o sono de mais de 350 bebês de 6 e 12 meses e suas habilidades mentais e motoras com 36 meses de idade. Não houve “associações significativas entre dormir por toda a noite e o desenvolvimento mental ou psicomotor posterior, ou sobre o humor materno”, segundo os autores. Mas “dormir por toda a noite foi associado a um índice muito menor de amamentação“, acrescentam eles.

E o maior e mais longo estudo longitudinal realizado em bebês que receberam intervenções comportamentais para reduzir problemas do sono como acordar à noite não encontrou diferenças entre os hábitos de sono, comportamento, controle emocional ou qualidade de vida das crianças aos seis anos de idade.

mito 10: Dormir sozinho gera autonomia e autoconfiança

E, de fato, um dos únicos estudos projetados para explicar essa diferença concluiu que as crianças em idade pré-escolar que começaram a dormir na cama com os pais quando bebês eram mais autoconfiantes e socialmente mais independentes que as crianças que sempre haviam dormido sozinhas, mas também que as crianças que começaram a dormir com os pais com um ano de idade (o que é considerado um ato “reativo”).

A origem dos mitos

O que ocorre é que boa parte da forma como observamos o sono dos bebês deve-se a valores culturais, suposições e ideologias, não à ciência.

“Antes do século 19, o sono dos bebês geralmente não era preocupante para os novos pais e os manuais populares para os pais da época não mencionavam nada sobre ele”. “Quando um bebê acordava, havia um membro da família acordado e pronto para cuidar dele ou um familiar dormindo ao lado do bebê que podia atendê-lo rapidamente. Havia também a compreensão de que os bebês (e adultos) dormiam quando precisavam dormir e ficavam acordados quando precisavam ficar acordados.”

Com os anos 1800, veio a Revolução Industrial e, com ela, uma classe média em crescimento e nova ênfase sobre a independência. Dias de trabalho mais longos significavam maior necessidade de dormir sem interrupções à noite.

A urbanização aumentou a quantidade de novos pais morando longe do apoio das suas famílias e os médicos homens – que acreditavam que ter diversas pessoas no mesmo quarto para dormir poderia “envenenar” o ar – começaram a substituir a orientação das mães e parteiras. Novos livros enfatizavam a necessidade de cronogramas de sono rígidos e de fazer os bebês dormirem sozinhos para que se tornassem fortes e independentes.

Mas isso não aconteceu em todo o mundo. “Os japoneses acham que a cultura norte-americana é um tanto cruel por forçar crianças pequenas a ter tamanha independência à noite”, segundo observou um pesquisador. Na Guatemala, as mães maias reagiram às informações sobre as práticas de sono dos Estados Unidos com “choque, desaprovação e pena”.

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